Desde pequena, a cearense Raimunda Cruz do Nascimento, mais conhecida como Raimundinha, testemunhou de perto a difícil luta de sua comunidade, de ascendência indígena, para sobreviver. Sem estudo nem dinheiro, sua mãe havia sido abandonada pelo marido, com cinco filhos, e acabou sendo enganada pelos posseiros da região, gente rica e poderosa, e expulsa de sua terra….
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Uma história de escravidão, pães caseiros e cenouras miudinhas
Se Dona Risoleta estivesse viva, teria feito no último dia 20 de março 117 anos. Na década de 1970, quando beirava os 80, ela falou de sua vida para a psicóloga Ecléa Bosi (hoje professora emérita da Universidade de São Paulo), que então realizava as entrevistas que analisaria para o importante trabalho Memória e Sociedade: lembranças de…
Cozinha imigrante: a burikita judaica
Quando o iugoslavo Avraham Ben Avran chegou a São Paulo, depois de deixar Israel, foi dar uma volta no Bom Retiro, o bairro em que viveria e onde, mais tarde, montaria a Doceria Burikita. Ao se deparar com uma placa na Rua dos Italianos, “curva perigosa”, ele se assustou não pelo perigo, mas pela tradução instantânea…
Memórias de supermercado: “sírvase”!
Mário Gomes D’Almeida*, nascido em São Paulo em 1925, trabalhava como vendedor na padaria Regência, no Jardim Paulistano, quando uma cliente americana, Mary, lhe contou a novidade que mudaria sua vida. Naquele início de anos 1950, um conhecido dela estava construindo na cidade o primeiro exemplar de um estabelecimento que, nos Estados Unidos, já havia…
Saberes (e sabores) guardados: o doce de laranja cantado
É por conhecer a fundo as cantigas de roda de seus tempos de menina e as habilidades de benzedeira, e por gostar de passar esses saberes adiante, que Lucília Francisca de Souza se tornou mestre griô. No depoimento que deu ao Museu da Pessoa, fica claro que para ela cantar é parte atada ao contar sua história….
Saberes (e sabores) guardados: o biscoito de vento
Lucília Francisca de Souza é mestre griô e quituteira, ou quitandeira, como a habilidade dela para fazer quitandas (biscoitos e bolinhos para comer junto de café coado) parece sugerir ser o jeito mais certo de chamá-la. Nascida em 1942 na zona rural de Nova Lima, em Minas Gerais, ela passou anos e anos na lida diária da…
Por que você está me contando isso?
Em “À Mesa com o Chapeleiro Maluco” (Companhia das Letras), o ensaísta Alberto Manguel explora a “demência sublime” de personagens doidos da literatura. Não é um livro de pegada gastronômica, ainda que seu nome possa sugerir que sim… “Em nossa época, para criar e manter a engrenagem forte e eficiente do lucro financeiro, escolhemos coletivamente…
Comer e beber a cidade: os estabelecimentos que lembram São Paulo
“São Paulo não para”, diz um dos muitos clichês sobre a cidade. Verdade. De década em década, parece até virar outro lugar, com novos edifícios, novos viadutos, novos estabelecimentos. Ainda que seus pontos históricos não sejam, assim, os mais visíveis, a capital paulista, como todo espaço urbano, é também um espaço de memória. Alguns…
Conte outra
“Cuidado: quase sempre, nós idosos nos servimos da saudade para “viver”, numa lembrança inventada, algo que, de fato, não conhecemos – e agora é tarde. Nossa vida não foi o que queríamos, e ela não vai mudar mais, no entanto “tivemos”(na lembrança) uma infância de conto de fadas, não é?” Essa sentença é uma fatia…
“Quando chega leite condensado, apropriam-se dele como butim”
Uma das vantagens de Worcester, um dos motivos por que é melhor morar ali do que na Cidade do Cabo, segundo o pai, é a facilidade de fazer compras. O leite é entregue todas as manhãs antes de clarear o dia; basta pegar o telefone e, uma ou duas horas depois, o homem de Schochat…