O feijão queima, porque a mãe teima em escrever um parágrafo depois de a fervura se erguer e a chama baixar, contando com os quarenta e sete minutos mais demorados de uma pressão. Só que esses passam num átimo. O feijão queima, porque o telefone toca (como assim?) ou porque é preciso pagar umas contas…
Categoria: Verdades inventadas
Verdades inventadas: crônicas da vida à mesa, na direção da memória do gosto
Lembranças póstumas da Lucky Peach
Embora tenha trabalhado muitos anos em revistas, quando me mudei para meu atual endereço joguei a maioria delas fora, algumas por falta de interesse em relê-las no futuro, outras por simples falta de espaço. Algumas, no entanto, resistiram. Não pude me desfazer daquelas que, por diferentes motivos, considerava especiais, e os poucos exemplares que colecionei…
Bolos de noiva: com frutas secas e virgindade
Ouça essa história também na Rádio Lembraria: Um dos mais tradicionais “amuletos” de boa sorte para quem acaba de se casar é o bolo da cerimônia, que, para intensificar seu poder, deve ser cortado pelo noivo e pela noiva juntos, segurando a mesma faca. Os “bolos de casamento” das fotos acima, com seus muitos andares e frufrus, são,…
O anel de Eudoxinha (e o bolo de noiva com surpresas)
“A fazenda Santa Rosa regurgitava naquela semana: ia casar-se Eudoxinha, a filha mais nova do Dr. Pinheiro, um dos mais abastados fazendeiros da localidade. A grande casa entre árvores copadas, caiada de fresco, destacava-se pela sua brancura. Os móveis antigos brilhavam no verniz recente. As paredes haviam sido empapeladas de novo, com flores vermelhas estampadas…
Chuva no casamento dá sorte ou azar?
A edição de 26 de junho de 1910 da Revista da Semana, publicada no Rio de Janeiro, reunia algumas superstições de casamento em vigor na época em que a noiva ia até a cerimônia de carruagem não por moda retrô, mas por única opção. “Superstições no casamento Dizem – e nunca se sabe quem – que…
Comida de mãe, segundo as regras da tataravó
Quando o doutorando Antonio Candido (hoje renomado literato, aos 98 anos de idade) estudou de perto as comunidades de bairros rurais de algumas cidades do interior de São Paulo, entre 1947 e 1954, observou que as mulheres recém-mães mantinham um velho costume de “guardar” os quarenta dias após o parto. No estudo que resultou em sua…
Cate os marinheiros, lave bem os grãos e cozinhe em água fervente
Não parece fácil encontrar uma simples receita de arroz ou de feijão em um livro de culinária. Naqueles publicados na época em que Candido Portinari retratou cenas de plantio e colheita dos dois ingredientes, entre os anos 1940 e 1950, pouco se acha de descritivo sobre a dupla que, de tão trivial, talvez se entendesse como parte dos…
Uma dorzinha no “voltar para casa” (ou um amor de domingo)
Todos os dias, a escritora Noemi Jaffe publica em seu Twitter etimologias que acompanho agradecida. É como se o dicionário abrisse a si mesmo na sorte da vez. Esse grifo dá voz ao sentido profundo das palavras e não raro arranca de mim um sorriso ou me faz erguer as sobrancelhas. No dia 25 de…
Com glacê e com afeto*
Fim de festa de aniversário do filho da vizinha, do casamento do amigo, do batizado da sobrinha. Tenho visto nos pratinhos de bolo largados aqui e ali camadas de cobertura dispensadas de propósito. Chantilly de canto. Glacê esquecido. Uma plaquinha inteira de pasta americana mordida “só para experimentar”. Devo fazer justiça à ganache de chocolate,…
As fantásticas mamadeiras de leite condensado (ou uma história do brigadeiro)
Talvez seja comum entre as crianças de hoje sonhar com um mundo onde o açúcar em excesso faça bem à saúde e esteja na rotina de alimentação. Pois esse mundo, mal sabem elas, já existiu. Para aqueles que nasceram no começo do século 20, tomar diárias mamadeiras de leite condensado era não só tudo bem, como…