Na orelha da edição brasileira do único romance escrito pela poeta norte-americana Sylvia Plath (1932-1963), A Redoma de Vidro (Biblioteca Azul), está anotado o seguinte: “Sua obra, composta sobretudo por poemas, mas também por contos, crônicas, correspondência e um vasto diário, chamou a atenção de um grande número de leitores pelo mundo, que veem em seu…
Categoria: Notas de canapé
Notas de canapé: entre aspas, a comida e a memória em livros de ficção e de não-ficção
O tempo da fascinação, o tempo da compreensão e a importância de parar para pensar
Sobre lembrança e memória, persistência e engano. Em um fragmento de Marcel Proust no livro de Roland Barthes, há o tempo da fascinação e o tempo da compreensão.
Uma carta à mãe Peppina
“Milão, 26 de fevereiro de 1927 Querida mamãe, Encontro-me em Milão desde o dia 7 de fevereiro, nos cárceres judiciários de San Vittore. Saí de Ustica em 20 de janeiro e foi-me entregue aqui uma carta sua, sem data, mas que deve ser dos primeiros dias de fevereiro. Não deve se preocupar por uma mudança em…
Páscoa com saci e confeitos de anis
A Semana Santa por muito tempo marcou o fim da Quaresma iniciada no Carnaval. Apontava o dia em que, para os mais religiosos, era possível voltar a comer carne vermelha, galinha e ovos. Antes do Domingo de Páscoa, no entanto, ainda seria preciso jejuar na Sexta-Feira Santa, ou Sexta-Feira Maior, pelo menos até a hora do almoço,…
Uma história de escravidão, pães caseiros e cenouras miudinhas
Se Dona Risoleta estivesse viva, teria feito no último dia 20 de março 117 anos. Na década de 1970, quando beirava os 80, ela falou de sua vida para a psicóloga Ecléa Bosi (hoje professora emérita da Universidade de São Paulo), que então realizava as entrevistas que analisaria para o importante trabalho Memória e Sociedade: lembranças de…
“Todos, do rei e rainha ao camponês e sua mulher, comem com as mãos”
Em 1530, o filósofo holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536) lançou um livro que seria um sucesso, não apenas pelas centenas de reedições que teria nos séculos posteriores (só nos seis anos seguintes, até a morte dele, o título seria republicado trinta vezes), mas, principalmente, porque se tornaria o precursor dos futuros manuais de etiqueta…
Içá, o caviar impensamentável de Monteiro Lobato
Famoso vale-paraibano, Monteiro Lobato (1882-1948) nasceu em um sítio em Taubaté, mas passou boa parte da vida na cidade de São Paulo, onde se formou em Direito no Largo de São Francisco e trabalhou como escritor e editor de livros (fundou aquela que se tornaria a Companhia Editora Nacional, hoje pertencente ao Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas,…
Sobre enxergar o extraordinário no ordinário
Depois do ótimo Cartas Extraordinárias, Shaun Usher, pesquisador e organizador, assina Listas Extraordinárias, que não é menos distrativo. O prazer de virar as páginas equivale a devorar chocolates na cama sem precisar saber que horas são. Os dois são publicados no Brasil pela Companhia das Letras. No primeiro livro, Usher trabalhou correspondências em contextos históricos variados. Quem assiste…
O peru de Natal e a “felicidade gustativa” de Mário de Andrade
No conto O Peru de Natal, publicado por Mário de Andrade (1893-1945) na revista da Academia Paulista de Letras em 1942 e, posteriormente, na obra póstuma Contos Novos, de 1947, o protagonista Juca está cansado de cultivar o luto pelo pai, morto meses antes. Está cansado, na verdade, das regras antes impostas pela figura patriarcal…
“Dê-lhe a beber um bom copo de pinga e o mate quando estiver completamente bêbado…”
É assim, do jeito descrito no título acima, que começa uma inocente receita de peru recheado encontrada no livro Dona Tita: As Melhores Receitas Culinárias, de 1948, gentilmente emprestado pela pesquisadora em alimentação e museóloga Dalva Soares Bolognini. O passo a passo ocupa uma página inteira da publicação (em uma época que, sem separação de ingredientes e…