Um picadinho à antiga paulista

“Nessas horas de solidão, ia para a cozinha, e tirava dois dedos de prosa com a cozinheira. A cozinheira escolástica é um tipo especial. Quase sempre se chama Joaquina, Benedita ou Antoninha. É criatura que sabe a crônica da estudantada, seus vícios e costumes, quais os vadios e os estudiosos; tem uma lista das namoradas…

A primeira cena de restaurante em um filme brasileiro

Um malandro paulistano dos anos 1920 acreditava que morar na cadeia, com “boia” e cama providos pelo governo, seria a melhor maneira de ganhar a vida – muito melhor do que trabalhar, mendigar ou roubar. Ao longo dos 40 minutos do filme Fragmentos da Vida, dirigido pelo cineasta José Medina (1894-1980) e lançado em 1929, o vagabundo sonhador cria inúmeras…

O último dos comedores de içá

No domingo, 18 de dezembro de 2016, morreu em Caçapava, aos 78 anos, Ocílio Ferraz, pesquisador e sobretudo divulgador da cozinha caipira, em especial a que ele tanto se orgulhava de classificar como vale-paraibana. Seu Ocílio comandava um restaurante na cidadezinha de Silveiras, no Vale do Paraíba, a 230 quilômetros de São Paulo, e ali,…

Uma viagem de ônibus para a Revolução de 32 (com parada na cozinha)

Não era meia-noite, nem Paris. Eram umas 5 da tarde em São Paulo, outubro de 2016, quando um ônibus me levou para 23 de maio de 1932, no exato dia em que os estudantes Mário, Miragaia, Dráusio e Camargo seriam mortos durante uma manifestação contra o governo de Getúlio Vargas – o que impulsionaria a Revolução Constitucionalista….

A geração canudinho

No início dos anos 1940, a turma de intelectuais que visitava a Confeitaria Vienense ganhou o apelido de “geração Coca-Cola” por usar o refrigerante americano – em vez de uísque e afins – como combustível para a sua sóbria “boemia”. No fim da mesma década, com a bebida borbulhante já consolidada entre os jovens, a expressão passou a ter…

Coca-Cola faz cosquinha (na memória)

Centro de São Paulo, anos 1940. Sentado à mesa de uma confeitaria, Candinho, um caipira vindo de uma fazenda do interior de São Paulo, é apresentado a uma bebida nova, cheia de borbulhas que fazem “cosca” na garganta, recém-chegada dos Estados Unidos – como muitos dos modismos que, sobretudo a partir da Segunda Guerra, passavam a ser…

As receitas falam – e pela raiz

Em um dos primeiros posts publicados no Lembraria, escrevi sobre receitas impressas em livros e cadernos antigos e sobre o idioma “falado” por elas, uma linguagem tão própria quanto viva e dinâmica. Desde o lançamento do livro Cozinha Tradicional Paulista em 1963, por exemplo, o imperativo “mate uma galinha” perdeu completamente o sentido em meio à descrição de uma…

O “verdadeiro” virado à paulista não é um, mas muitos

Como toda boa receita considerada tradicional, o verdadeiro virado à paulista não é um, mas muitos. O impulso para este post surgiu de uma visita ao bar/restaurante A Casa do Porco, em São Paulo, do chef Jefferson Rueda. Em seu cardápio, há uma mistura contemporaneizada de porco, feijão, couve, linguiça, banana e ovo de codorna que…

“Quem nos tira de um viradinho bem mexido não nos quer bem…”

Balbina Rosa, casada com o Chico, mãe do Quincas, viveu na São Paulo do século 19. Ela gostava muito de virado de feijão, mas andava descontente com o preço dos ingredientes que tinha de comprar para a receita – nos idos de 1860, o grão, em especial, estava pela hora da morte. Tão caro quanto…

Quitutes juninos, com amor e sorte, sem milho nem amendoim

As festas juninas de nosso tempo parecem ter gosto de milho. Curau, canjica, pamonha. E de amendoim também. Pé de moleque, paçoca doce. Mais recentemente, festa junina também ganhou gosto de sanduíche de pernil, de churrasquinho de carne e até de qualquer outra coisa “gourmet” da vida. Mas já houve um tempo em que, além dos…