Se Dona Risoleta estivesse viva, teria feito no último dia 20 de março 117 anos. Na década de 1970, quando beirava os 80, ela falou de sua vida para a psicóloga Ecléa Bosi (hoje professora emérita da Universidade de São Paulo), que então realizava as entrevistas que analisaria para o importante trabalho Memória e Sociedade: lembranças de…
Mês: março 2017
O cheiro do cuidado, a comida do sítio
Neta de agricultores, Andressa Santos é paulista de Angatuba (1995). Cresceu em São José do Barreiro e hoje vive em São Paulo, no bairro do Bom Retiro. Para ela, a fatia de memória não existe em uma receita específica, mas no cheiro de cuidado da comida de sua avó, da cozinha do sítio, cheia de…
Em busca do bolo perdido
Nascida em 1961, a paulistana Magali Boguchwal Roitman viveu nos bairros de Bela Vista e Bom Retiro, antes de se mudar para Moema. Há anos ela se pergunta aonde foi parar o chamado “bolo pelé”, de chocolate, molhadinho pela calda de laranja derramada sobre a massa ainda quente. Sua mãe sabia de cor o modo…
Comida de avô, no lombo do burro, no meio da tropa
A imagem do feijão-tropeiro cristalizou-se como a de um potente PF de tutu ou virado com bastante toucinho (ou bacon), acrescido de couve e, às vezes, também linguiça. Alguns dizem que a diferença entre essas receitas seria a farinha utilizada para engrossar o feijão: de mandioca, para o tropeiro; de milho, para o tutu e o…
“O almoço era um feijão-tropeiro feito na trempe”
“Meu nome é José Alves de Mira, eu nasci em outubro de 2024, como é que é? De 1924, né? Meu pai trabalhava na enxada, plantava muito, a gente plantava muito e trabalhava com tropa. Nas colheitas, ele trabalhava com tropas. Baldear as coisas para a cidade era o trabalho dele. Levava arroz, feijão, milho,…
“Quando você refogava o feijão, o que cheirava, menina, fazia gosto!”
“Quando eu fiz 10 anos, aí eu já fui mexer, fui trabalhar com a tropa. Tinha um homem até me esperando, um sujeito muito amigo de meu pai, que já estava me esperando para eu ir trabalhar com ele. Eu ia ser cozinheiro. Cozinheiro, que, na tropa, gastavam um cozinheiro, um tocador e um arrieiro. Quando…
Comida de mãe, segundo as regras da tataravó
Quando o doutorando Antonio Candido (hoje renomado literato, aos 98 anos de idade) estudou de perto as comunidades de bairros rurais de algumas cidades do interior de São Paulo, entre 1947 e 1954, observou que as mulheres recém-mães mantinham um velho costume de “guardar” os quarenta dias após o parto. No estudo que resultou em sua…
Carijó de feijão e arroz na panela de ferro
A panela de ferro era uma espécie de contadora de histórias na casa em que cresceu a gaúcha Jozieli Camargo Noquete Weber, de 23 anos. A mãe aproveitava a gordurinha e o molho da carne feita no almoço para, no jantar, fazer surgir da mesmíssima panela um prato novo que ela chamava de “carijó”, comida até o…