O arroz e o feijão: histórias de um encontro culinário

Por meio do projeto Armazém do Brasil, realizado em parceria com o Sesc, o Museu da Pessoa gravou cerca de oitenta horas de conversa com pessoas que trabalharam na Zona Cerealista de São Paulo ao longo do século 20*. Essa enorme área de comércio, que se desenvolveu a partir do pioneiro entreposto de alimentos instalado nas proximidades dos…

Cate os marinheiros, lave bem os grãos e cozinhe em água fervente

Não parece fácil encontrar uma simples receita de arroz ou de feijão em um livro de culinária. Naqueles publicados na época em que Candido Portinari retratou cenas de plantio e colheita dos dois ingredientes, entre os anos 1940 e 1950, pouco se acha de descritivo sobre a dupla que, de tão trivial, talvez se entendesse como parte dos…

A colher de ferro e a cantilena do mingau de feijão com pimenta-brava

A avó de Rodrigo Moreira de Faria, mineiro de Belo Horizonte nascido em 1954, usava uma colher de ferro para mexer em uma panela, também de ferro, o feijão do dia bem amassadinho, umedecido em molho quente de pimenta-brava. Óleo para brilhar, farinha de mandioca para engrossar. Era esse poderoso mingau que seus filhos comiam…

O nhoque de batatas no almoço de domingo

A mãe, de família parte carioca, parte alagoana, sempre soube mais de cuscuz e de feijão do que da culinária que pautava, na origem, o gosto de seu marido, um filho de italianos. Aos domingos, porém, ela se esmerava em agradá-lo à mesa justamente com frango assado, maionese e um importante nhoque de batatas cujo ponto…

Quibe: sempre aos domingos

Aos domingos em Três Lagoas, a menina Marta sentia o vestidinho pinicar na pele. O que era para ser desconforto na verdade desaparecia na expectativa de reencontrar, no bar da avó, o quitute preferido: quibe. Marta Denise da Costa Santos nasceu em 1964, no Mato Grosso do Sul. Depois de viver em São Paulo e…

Uma dorzinha no “voltar para casa” (ou um amor de domingo)

Todos os dias, a escritora Noemi Jaffe publica em seu Twitter etimologias que acompanho agradecida. É como se o dicionário abrisse a si mesmo na sorte da vez. Esse grifo dá voz ao sentido profundo das palavras e não raro arranca de mim um sorriso ou me faz erguer as sobrancelhas. No dia 25 de…

O doce de laranja amarga do Seu Honório, o pai da Daniela

Nascida em Cotia, em São Paulo, no ano de 1977, Daniela Previde Stefano Emerick cresceu na Granja Viana e hoje vive na cidade de Veranópolis, no Rio Grande do Sul. É de lá que ela acerta as arestas das próprias memórias: o pai, Honório, trabalhava fora. Não era dele, a rigor, a tarefa de cozinhar. Só…

“Todos, do rei e rainha ao camponês e sua mulher, comem com as mãos”

  Em 1530, o filósofo holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536) lançou um livro que seria um sucesso, não apenas pelas centenas de reedições que teria nos séculos posteriores (só nos seis anos seguintes, até a morte dele, o título seria republicado trinta vezes), mas, principalmente, porque se tornaria o precursor dos futuros manuais de etiqueta…

O arroz mexe-mexe da mãe da Ana

Ana Ban nasceu e cresceu em São Paulo e hoje vive no Brooklyn, em Nova York. Para lá, levou uma receita importante: arroz mexe-mexe. Quando está chateada ou irritada, sua voracidade é direcionada para uma panela de arroz com ovo mexido, que prepara ao modo de sua mãe. À pergunta que angustia muita gente (o que…

Os bolinhos de carne moída da Dona Luzia

Filha de baiano, paulista nascida em Guarulhos, Fabiana Ferraz não costumava hesitar na escolha ao pedir para a mãe um comida especial em seu aniversário. No lugar de docinhos e bolo confeitado, a festinha dos sonhos daquela criança tinha bolinho de carne moída e refrigerante. A bela Dona Luzia já não cozinha mais. Suas receitas, contudo, ainda…