Depois de passar fome e de viver de esmolas em sua cidade-natal, Eldorado, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo, Nair Oliveira de Almeida resolveu mudar. Transferiu-se para a capital, currículo na mão e de porta em porta, com a intenção de trabalhar em uma casa de família. Conseguiu: assumiu o posto de arrumadeira. Não precisaria mais se preocupar em pedir dinheiro nas ruas, mas a fome… esta continuaria quase a mesma. “Quando era a hora da comida, a patroa fazia meu prato, e era aquele pouquinho de comida. E acabou”, conta ela, em depoimento ao Museu da Pessoa.
Ao observar a cozinheira, outra funcionária da casa, Nair notou que a fome de arrumadeira não chegava até ela, que passava o dia em meio às panelas, preparando os alimentos, provando os temperos e fazendo seu próprio prato de almoço. Foi, então, que descobriu uma maneira de saciar sua carência mais básica. “Eu comecei a pensar: vou começar a ser cozinheira, e aí eu trabalho na cozinha e não mais passo mais necessidade”, lembra. Comprou revistinhas de receitas, leu muito, prestou atenção em tudo, e pôde conhecer finalmente o verso da fome. “E eu aprendi a cozinhar assim, passando fome.”
De volta a Eldorado, onde nasceu em 1952, Nair trabalhou por muito tempo na cozinha dos outros até se sentir confiante, e com um dinheirinho, para abrir seu próprio negócio. A lanchonete que hoje também atende como restaurante de comida caseira no almoço vive cheia dos turistas que vão à região sobretudo para visitar a famosa Caverna do Diabo. O nome de seu estabelecimento, no entanto, não faz nenhuma referência ao tinhoso; religiosa como só, Nair preferiu chamá-lo de Shalon. “Quer dizer paz.”
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Outras coleções do Lembraria para o Museu da Pessoa:
- Cozinha imigrante: receitas judaicas em trânsito.
- Memórias de supermercado: a loja que revolucionou a cozinha.
- Saberes (e sabores) guardados: as receitas de uma mestre griô.
- Comer e beber a cidade: os estabelecimentos que lembram São Paulo.
- Sabores de infância: histórias de comida que lembram os tempos de criança.
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