As festas juninas de nosso tempo parecem ter gosto de milho. Curau, canjica, pamonha. E de amendoim também. Pé de moleque, paçoca doce. Mais recentemente, festa junina também ganhou gosto de sanduíche de pernil, de churrasquinho de carne e até de qualquer outra coisa “gourmet” da vida. Mas já houve um tempo em que, além dos…
Mês: junho 2016
Saudade, amor, São João e cachaça
No último sábado, 18 de junho, montamos pela primeira vez nossa barraca Lembraria de comidinhas do passado e a levamos para a festa do Dia da Música da Banca Tatuí, na rua Barão de Tatuí, em Santa Cecília, São Paulo. Com a ajuda da amiga e cozinheira Renata Helena Rodrigues, passamos algumas semanas preparando, testando e adaptando…
Vermelho Amargo
Se a chuva chovia mansa o dia inteiro, o amor da mãe se revelava com mais delicadeza. O tempo definia as receitas. Na beira do fogão ela refogava o arroz. O cheiro do alho frito acordava o ar e impacientava o apetite. A couve, ela cortava mais fina que a ponta da agulha que borda…
Dona Flor e seus improvisos
Vinte bolinhos de massa puba ou mais, conforme o tamanho que quiser. Aconselho dona Zélia a fazer grande de uma vez, pois de bolo de puba todos gostam e pedem mais. Até eles dois, tão diferetens só nisso combinando: doidos por bolo de puba ou carimã. Por outra coisa também? Me deixe em paz,…
Sobre abismos e tortas de cebola
Recordo furiosos ataques de abstinência de nicotina, meu corpo entorpecido, fissurado enquanto eu vasculhava entre as almofadas do sofá e rastejava embaixo dos guarda-louças em busca de moedinhas perdidas. Por dezoito cêntimos de franco (mais ou menos três centavos e meio de dólar), dava para comprar cigarros de uma marca chamada Parisiennes, vendidos em pacotes…
“Quando chega leite condensado, apropriam-se dele como butim”
Uma das vantagens de Worcester, um dos motivos por que é melhor morar ali do que na Cidade do Cabo, segundo o pai, é a facilidade de fazer compras. O leite é entregue todas as manhãs antes de clarear o dia; basta pegar o telefone e, uma ou duas horas depois, o homem de Schochat…
“Somos todos mortais [só] até o primeiro beijo e o segundo copo”
Estava suave o sol, o ar limpo e o céu sem nuvens. Afundado na areia, um caldeirão de barro fumegava. No caminho entre o mar e a boca, os camarões passavam pelas mãos de Zé Fernando, mestre de cerimônias, que os banhava em água-benta de sal e cebolas e alho. Havia bom vinho. Sentados em…
Biscoitos “da sorte” tradicionalmente paulistas (e juninos!)
Muito antes de qualquer influência chinesa em São Paulo, quando o bairro da Liberdade nem sonhava ser oriental, alguns estabelecimentos da cidade já serviam biscoitinhos da sorte – que, de inspiração asiática, aliás, nunca tiveram nada. Os quitutes paulistas da “sorte” eram, na verdade, antigas receitas de bolinhos, sequilhos e roscas que, em junho, por volta da segunda metade…
Aurélia foi embora
O café ficou por algum tempo deitado sobre o balcão e perdeu os primeiros vapores da transitoriedade. Quando a menina trouxe a xícara e colocou-a à sua frente como quem dá uma sentença (de morte), ele agradeceu, bebeu, tentou não contorcer demais o rosto e, em seu habitual estado de autodestruição, pediu outro. Camicase. Traga…
“Junho é bom como uma saudade”
E, finalmente, ela tirou a folhinha de maio da parede; apareceu a de junho. Uma sensação meio mística a encheu por dentro, com sabor da canjica que a mãe, desde cedo, deixava aferventar no fogão. O pai estava animado: a poucas semanas seria noite de São João, véspera do dia 24, aquela em que todos…