
A capa de “Cartas Extraordinárias” (Companhia das Letras, 2014) estampa a opinião do Sunday Times: “O equivalente literário a uma caixa de chocolates (…)”. Organizado por Shaun Usher, que a essa altura já desdobrou o trabalho em vários outros projetos de pesquisa ao mesmo estilo, o livro reúne a correspondência de pessoas “notáveis” ao longo da história. São 125 mensagens dos estilos mais sortidos. Há desde o tipo comovente até o engraçado, passando pelo triste, o inspirador, o meramente curioso e o espantoso. Katharine Hepburn, Zelda Fitzgerald, Einstein, Dostoiévsky, Grouxo Marx e mesmo um suposto Jack, o estripador, aparecem entre os remetentes.
Usher escolheu publicar como carta 001 a mensagem que partiu do palácio de Buckingham no dia 24 de janeiro de 1960. Foi escrita pela rainha Elizabeth II ao então presidente dos Estados Unidos Dwight D. Eisenhower. Ela continha um texto delicado, que fazia referências a uma visita recente, e a uma prometida receita de scone (um pãozinho em geral presente na hora do chá da tarde). “Para um número menor [de pessoas], geralmente ponho menos farinha e leite, mas uso os outros ingredientes na quantidade especificada”, diz a rainha (p. 16).

Não há outras missivas mais relevantes do que essa sobre o assunto comida – sempre a conferir, porque o trabalho de Usher continua vivo e sendo “alimentado” pelo pesquisador neste site. A quinta carta da coletânea data de 19 de maio de 1964 e acompanha “algumas caixas” de sopa de tomate endereçadas a Andy Warhol, o mais notório representante da pop art no mundo. Dois anos antes, ele havia feito sua primeira exibição e nela mostrava a famosa obra com 32 serigrafias de embalagens de sopas Campbell. Na carta, o gerente de produto da marca diz que adoraria comprar um desses trabalhos, “porém receio que seja caro demais para mim” (p.30).

Há ainda o garoto de 8 anos que em julho de 1973 escreveu ao presidente norte-americano Richard Nixon, para falar de sua saúde. Às vésperas de ser derrubado pelo escândalo de Watergate, Nixon teve pneumonia e foi internado. John W. James III mandou o seguinte recado: “Agora o senhor tem de ser um bom menino e tem de comer a verdura assim como eu tive!! Se o senhor tomar o remédio e as injeções, vai sair em oito dias como eu.” (p. 81).

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