Histórias de mulher-goiabada

Por muito tempo, mulheres que trabalharam como donas de casa – na função “do lar” – viveram em um campo de conflitos e contradições entre as estruturas patriarcais e o exercício de poderes ligados ao ambiente doméstico, às complexas relações entre mães e filhas, sogras e noras, patroas e empregadas e à vida na vizinhança, na comunidade, na sociedade. Conhecer suas histórias é uma forma de questionar os velhos e resistentes clichês da “família Doriana” (conduzida pela mãe-esposa branca, de classe média, integralmente dedicada à felicidade do lar) e da “vovó cozinheira” (igualmente branca e de classe média, de cabelo branco e mãos de fada, cumprindo sua “natural” função de nutrir e satisfazer a família), tão bem apropriados pela indústria alimentícia e tão cristalizados em nosso imaginário.


“Depois de casadas, não tinha mais sentido pensar sequer em guardar segredos, que segredo de mulher casada só podia ser bandalheira. Restava o recurso do caderno do dia a dia, onde, de mistura com os gastos da casa cuidadosamente anotados e somados no fim do mês, elas ousam escrever alguma lembrança ou confissão que se juntava na linha adiante com o preço do pó de café e da cebola. Os cadernos caseiros da mulher-goiabada.”

Lígia Fagundes Telles, A disciplina do amor (1980)

Daphne: Vamos acendê-lo?
Anthony: Bem, vai em frente.
Daphne: Eu?
Anthony: Eu não sei como fazer.
Daphne: Acha que eu sei?!
Anthony: Leite frio, então!

Bridgerton (Netflix, 2020)

Do célebre fotógrafo Aurélio Becherini, esta foto registra a cozinha do Asilo de Meninas Órfãs e Desamparadas do Ipiranga, em São Paulo, na década de 1900. Quais objetos e equipamentos culinários desta imagem você ainda usa em sua cozinha? (Acervo Museu Vicente de Azevedo)

Histórias de comida

São Paulo, 1979 (Coleção Museu da Pessoa)

Entre 2016 e 2017, o Lembraria reuniu inúmeras histórias sobre alimentação e culinária, no Brasil e no mundo. Nas Coleções Museu da Pessoa, selecionamos do acervo do museu histórias de vida relacionadas à cozinha de casa e dos restaurantes, a comidas e bebidas. Nas seções Lembra São Paulo e Verdades inventadas, escrevemos crônicas e ensaios sobre memória e história, da cidade e das pessoas, do leite condensado às nozes fingidas. Também pinçamos de livros de ficção e não ficção e de séries e filmes excertos que deram forma às Notas de canapé e às Notas de pathé. E, a partir das lembranças enviadas pelos leitores por meio da pesquisa Fatias da Memória, construímos O dicionário das comidas impossíveis, com verbetes de receitas inesquecíveis.

Sal, gordura, acidez e calor: ouça o terceiro episódio de nossa primeira temporada da Rádio Lembraria, de 22 de abril de 2017
Notas sonoras, número zero: o primeiro episódio da Rádio Lembraria trouxe a leitura de trechos emocionantes do depoimento de Dona Risoleta, filha de escravizados, empregada doméstica e dona de pensão, concedido à professora Ecléa Bosi, em 1970
Dalva e as rãs fritas do Rio Tietê: as lembranças da paulistana Dalva Soares Bolognini (1938-2018) do tempo em que o pai dela “pescava” rãs saborosíssimas das águas limpas do Tietê

Com glacê e com afeto, por Viviane Zandonadi

Glacê real

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Sobre nós: o Lembraria e as Vivis

O Lembraria foi criado em 2016 pelas jornalistas Viviane Aguiar e Viviane Zandonadi para reunir “histórias de comida”: crônicas, ensaios e notas, em texto e em áudio, sobre histórias e memórias relacionadas à alimentação, à culinária e à gastronomia.

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Viviane Aguiar
vivsaguiar@gmail.com

Viviane Zandonadi
vivizandonadi@lembraria.com

Imagens do cabeçalho:
Cadernos de receitas de Araceli Medina Pasqualin (Acervo Viviane Aguiar)

Van Loon Museum, Amsterdam
Hampton Court Palace, Surrey, Reino Unido